Estivemos durante dois dias em Salvador-BA, levando nosso apoio aos valorosos Policiais Militares em greve. Uma delegação da Associação Nacional de Sindicatos “Unidos pra Lutar” composta pelos dirigentes do Sindicato dos Químicos de São José e Vale do Paraíba (SP) Wellington Cabral; por Reginaldo Cordeiro, dirigente do Sindicato dos Rodoviários de Ananindeua e Marituba (PA) e por Pedro Rosa, Coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense (RJ).
Sua luta, assim como a das policias do Ceará no começo do ano, ou a dos bombeiros do Rio no ano passado é mais do que justa: eles reivindicam um salário digno e condições de trabalho humanas. Logo eles, que arriscam sua vida como os bombeiros nas sucessivas enchentes, nos desabamentos de morros e prédios, nos incêndios que se repetem. Ou como os policiais que colocam em risco sua vida enfrentando todo tipo de bandidos.
Nos emocionamos falando com grevistas, esposas e filhos que corajosamente acompanham seus familiares na luta. E nos indignamos com o discurso e a atitude terrorista do governador Jaques Wagner do PT e da presidente Dilma, que mandaram o exército, tanques e helicópteros para fazer cerco e reprimir os grevistas, trabalhadores da segurança pública, que ocupavam a Assembléia Legislativa.
Levamos nosso apoio e nossa solidariedade sindical, política, material e moral. Ouvimos lideranças de outros estados, também policiais, apoiando seus camaradas. E saímos de Salvador após a assembléia, onde em que pese à prisão das lideranças, os policiais ratificaram que a greve continua.
Voltei para o Rio a tempo de participar da Assembléia conjunta dos policiais civis, militares e bombeiros do Estado, que aguardaram até o ultimo momento antes de deflagrar a greve alguma sinalização de negociação decente por parte do governo. A Cinelândia estava lotada, eram mais de sete mil vozes que cantavam: “Libertem Daciolo e prendam o Cabral” e “Greve Geral, a culpa é do Cabral! Quando a esposa do prisioneiro político Daciolo falou, se fez um grande silencio e foi grande a emoção que comoveu todos na Cinelândia.
Eram recebidas com aplausos as delegações das UPP’s que se somaram à greve, como a da Providencia, Cidade de Deus, Turano, entre outras. A Rede Globo foi duramente criticada e vaiada, pela sua desavergonhada cobertura manipulada dos fatos, apoiando descaradamente o governo, insistindo junto com a Justiça na “ilegalidade da greve”.
Justiça? Enquanto policiais e bombeiros são presos por defender seu direito a um salário digno, o mega especulador Naji Nahas festeja o despejo violento do Pinheirinho a mando do governo do PSDB. O mais revoltante é que nove dias após o despejo a Prefeitura tucana reduziu o IPTU sobre o terreno e o que era uma dívida de R$ 2 milhões foi gentilmente reduzida para R$ 400 mil!
Justiça? Prendem o Daciolo no Rio e Marcos Prisco na Bahia, assim como outras lideranças que foram presas ou estão com mandado de prisão, mas o banqueiro Daniel Dantas, acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas foi premiado: a Justiça Federal suspendeu o sequestro de todo o complexo agropecuário – 27 fazendas e 450 mil cabeças de gado, patrimônio que estava sob regime de arresto desde julho de 2009 quando ocorreu operação da Policia Federal pelas acusações de lavagem e evasão de divisas.
O que está em jogo nesta greve é a política do governo federal e dos governos estaduais, sejam do PT, do PMDB, do PSB, ou dos tucanos de um ajuste que cai nas costas dos trabalhadores, e especialmente sobre os servidores públicos dos três setores: federal, estadual e municipal.
Ao dedicar 50% do orçamento para o pagamento dos juros e amortizações da dívida pública, o governo corta e corta despesas sociais. Por isso os professores, funcionários da saúde, da segurança pública, servidores das universidades e de outros órgãos e serviços tem seus salários congelados, seus serviços sucateados e sua aposentadoria sob o iminente perigo de ser privatizada.
Mas Dilma e o PT se elegeram entre outras coisas porque na época defenderam a PEC-300 que garante um piso nacional para policiais e bombeiros, que é reivindicação da categoria. Compromisso que logo em seguida traíram, e agora, da mesma forma que os tucanos, criminalizam e perseguem os trabalhadores que lutam pelo salário.
Cabe a todos os lutadores honestos do país, aos partidos que se reivindicam de esquerda, à juventude que luta pelos seus direitos, estarem lado a lado hoje com os policiais e bombeiros que na Bahia e no Rio lutam pela sua dignidade, pela liberdade de seus lideres presos, pelo salário. Da mesma forma, cabe ajudar a articular os policiais, os trabalhadores da saúde e da educação, para todos juntos unificar a luta dos servidores públicos em prol do aumento salarial que com toda razão reivindicam. A vitória destas lutas será o enfraquecimento do plano de ajuste destes governos e isso impulsionará novas categorias a lutarem.
Merece da nossa parte especial destaque o papel da dirigente do PSOL, dirigente sindical da saúde e hoje Deputada Estadual do RJ, Janira Rocha. Não aceitamos os ataques a que está sendo submetida pela imprensa e por parlamentares inescrupulosos, como Cidinha Campos do PDT, que a acusou de ter quebrado o “decoro parlamentar”. Vergonha! Quando 99% dos parlamentares do país utilizam seu mandato para negócios particulares e os partidos viraram legendas para proteger e enriquecer políticos servis ao capital, Janira teve um comportamento exemplar que nos orgulha. Por isso, também estamos na sua defesa para o que for necessário.
Pedro Rosa Cabral – Coordenador Sintuff (Servidores da Universidade Federal Fluminense) e dirigente da Associação de Sindicatos Independentes Unidos pra Lutar.
10 de Fevereiro de 2012
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